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Tricolor desde vidas passadas... mas com a lembrança mais remota de torcedor em 1983, no gol do Assis aos 45 do segundo tempo. Um começo e tanto! Interesses diversificados sobre artes em geral (literatura, cinema, teatro, música, quadrinhos, animação, artes plásticas).

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Fluminense no traço de Henfil


Tira de Henfil, de 17 de junho de 1969, sobre a conquista do campeonato carioca
daquele ano pelo Fluminense. 


Fla-Flu de 691969. Num Fla-Flu épico que já rendeu mais de um post no blog e que  inspirou Nelson Rodrigues na crônica Chega de Humildade, o Fluminense se sagrou campeão ao vencer o velho rival por 3x2, com gol de Flávio no final. Lembrados? Então vamos à visão do rubro-negro Henfil para o acontecimento. 

Luta de classes no futebol Como é sabido, a paixão de Henfil pelo Flamengo era notória e estava ligada às suas convicções políticas na ideologia de assistência ao povo e na rejeição aos hábitos da elite. Henfil transpunha à esfera do futebol, a luta de classes, e os discursos ligados à defesa de direitos das massas em oposição às regalias da burguesia.  

Ditadura Militar e a elite no futebol carioca

Dito isso, percebemos na construção do personagem tricolor de Henfil, um personagem afetado, cujos discursos carregavam um caricato preconceito de classe e raça, abusando de expressões em inglês ou francês. Na charge acima, chega a colocar o pó-de-arroz torturando o bacalhau (torcedor vascaíno)  para que ele contasse onde o rubro-negro urubu  havia se escondido na tentativa de fugir de pagar a sua aposta (em geral, botar ou chocar um ovo imenso).  Prestando um pouco mais de atenção na charge, percebemos uma relação usual: 1969, tortura, esconderijo, interrogatório... isso lembra alguma coisa?  Justamente é essa carga pesada que Henfil procurava retratar...neste caso aqui quem tortura é um representante da elite... acredito que seja bem possível que Henfil estivesse sugerindo a participação direta de parte da elite empresarial que financiava a ditadura. Notem bem que não estou acusando Henfil de sugerir que a torcida do Fluminense estivesse ligada aos órgãos da ditadura, mas que ele trabalhava com representações e no universo das charges esportivas, era o Pó-de-arroz e o Cri-Cri (torcedor do Botafogo) que representavam a elite dominante no universo de suas tirinhas.        

Tempos de perspectiva parcial   
Nelson Rodrigues já dizia em uma de suas crônicas que só acreditaria na imparcialidade do sujeito que declarasse que a própria mãe é vigarista. Se ele mesmo nunca fez questão de esconder, mas ao contrário, de declarar seu amor pelo Fluminense, no mesmo jornal, Henfil também pôde manter sua postura pró- Flamengo. Em sua tira, o rubro-negro raramente se dava mal. Quando se dava mal, havia sempre um culpado maior para pagar as suas apostas: o juiz, o técnico, um jogador.
Sobre o Fla-Flu, dignamente vencido por nós, temos nesta charge uma evidência do legítimo chororô rubro-negro... e do bom humor de Henfil, que encontrou em Armando marques o bode expiatório para o revés rubro-negro.     
Tira de Henfil, de 20 de junho de 1969, sobre a conquista do campeonato carioca
daquele ano pelo Fluminense. 


Em todos os cerca de cinco anos que Henfil era a voz humorística do Jornal dos Sports, foram poucas as vezes em que o Fluminense foi mencionado de uma forma que não fosse pejorativa. Uma delas, a de baixo, é de 1973, quando o veterano tri-campeão Gerson foi pôr seu talento em favor de seu time de coração: o nosso Fluzão. Muito se dizia de sua capacidade de fazer longos e precisos lançamentos, que compensavam a disposição física debilitada pelo fumo (Gerson caiu na boca do povo ao fazer propaganda de cigarro, dizendo que gostava de levar vantagem em tudo, criando o ditado popular- lei de Gerson) .      

Tira de Henfil sobre o Gerson, de 08 de abril de 1973. 

Outra ótima de Henfil, que, por um lado, não chega a ser pejorativa contra o Fluminense, por outro, procurava justificar (ou reclamar) de certas derrotas do seu time nos Fla-Flus... "ai, Jesus!".
                                    Tira de Henfil sobre Fla-Flus, de01 de maio de 1973. 

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