sexta-feira, 29 de junho de 2012

O pó-de-arroz e as tradições inventadas.



A história do futebol brasileiro, a começar pela sua própria origem, está repleta de mitos, de tradições inventadas e lendas criadas pela imprensa. Hoje em dia está mais que provado que antes de Charles Müller em São Paulo, antes de Oscar Cox no Rio de Janeiro, o futebol já era jogado esporadicamente no Brasil.
A imprensa ajudou a consagrar nomes. Numa dessas muitas histórias está a origem do pó-de-arroz, perpetuada pelo célebre jornalista Mário Filho, em seu clássico "O negro no futebol brasileiro". A verdade é que não há vestígios fidedignos nem na imprensa da época que comprovem o fato eternizado pelo editor do Jornal dos Sports. O próprio Marcos Carneiro de Mendonça negava veementemente a historia, alegando que ninguém ali permitiria que o colega passasse pela situação vexatória que disem ter se passado com Carlos Alberto. Verdade ou não, são preciosas e saborosas essas lendas criadas no meio da imprensa sobre episódios curiosos do nosso futebol.
Conta-se que em 1916   foi parar no Fluminense um jogador mulato que jogava pelo América, chamado Carlos Alberto. Se no América ninguém reparava que ele era mulato, pela forte presença de mestiços na equipe, no time de brancos do Fluminense, ele destoava. O momento da saudação do time para a torcida, quando os jogadores eram recepcionados por um "hiphip-hurra" o contraste da cor de sua pele saltava aos olhos. Assim ao lado dos brancos tricolores, o mulato temendo o preconceito, acabaria tendo uma idéia que iria marcar uma torcida para sempre. Passou a se dedicar a um preparo especial antes das partidas. Cobria-se de... pó-de-arroz, muito usado pelas moças da alta sociedade, na época.  O pó na cara de Carlos Alberto chamava ainda mais atenção. Quando o Fluminense ia jogare contra o América, seu ex-time, "a torcida de Campos Salles caía em cima de Carlos Alberto: _ Pó-dearroz! Pó-de-arroz." Carlos Alberto procurava fingir que não era com ele. Imagino, então, o suor no decorrer da partida "limpando" o pó de seu rosto.
Não se sabe ao certo sobre a veracidade do episódio, mas o fato é que Carlos Alberto acabou gravando seu nome na história, identificado como o homem que deu ao Fluminense o apelido e a tradição do pó-de-arroz jogado nas arquibancadas.  Certo dia, Carlos Alberto não jogou e os gritos de pó-de-arroz partiram das arquibancadas adversárias da mesma maneira. Em 1969, Henfil ajudou a consagrar o apelido, com as tiras do Jornal dos Sports.


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